Conteúdo da Formação:Leitura e
escrita peloaluno
Consultora: Renata
Frauendorf
Coordenadora: Débora Rana
Formadoras: Claudiene Dias
da Silva e Sandra da Silva Duarte
Responsável pela síntese: Claudiene Dias
da Silva
Escola participantes: Aldemir Cantanhede, Arco-
Íris,ChapeuzinhoVermelho,Dr. Dirceu, Eva dos Santos,IrenoBerticelli, Henrique
Dias,Jorge Teixeira, José de Anchieta, Mafalda Rodrigues, Magdalena
Tagliaferro, Mário Quintana, Paulina Mafini, Pedro Louback, Pingo de Gente,
Prof. Levi Alves, Prof. Venâncio, Roberto Turbay, Pe.ÂngeloSpadari,Sonho Meu,
Ulisses Guimaraes e Vinicius de Moraes.
“... A palavra escrita num livro é uma
palavra morta; quando fazemos a leitura silenciosa, não está morta, acorda um
pouquinho; mas a palavra só fica acordada quando a dizemos. Para que a palavra
soe desperta é preciso dizê-la; ler silenciosamente as palavras não é
suficiente. E nós todos sabemos que, quando se lê poesia, fazer uma leitura
silenciosa de uma poesia ou fazer umaleitura em voz alta dela são dois mundos
completamente diferentes (...) eu digo ao meu leitor “você tem que ler
escutando dentro da sua cabeça a voz que está dizendo”, isso se aplica ao
autor.”
José
Samarago
Era vinte e três de setembro, estávamos nós em uma manhã,
na sala de treinamento da prefeitura municipal de Ariquemes - RO, sentadas em
um grande círculo estudando,discutindo e refletindo sobre o conteúdo: leitura só
que agora com foco nos alunos já alfabetizados. Um conteúdo novo que no decorrer foi se equilibrando com o
objetivo de discutir a fluência leitora
e seus entendimentos. Este nos trouxe apontamentos do caminho que iremos
trilhar nestes últimos encontros, bem como, indagações da prática e
perspectivas de onde podemos chegar. Ao término do encontro estávamos certas
que nunca mais seríamos as mesmas porque esta é a magia essencial de viver se
formando!
Tudo
começou a partir do levantamento prévio que nós formadoras propuseram uma conversa sobre as práticas
mais comuns de leitura pelo aluno observadas na escola e quais suas
finalidades. Na conversa as participantes apontaram o quejáesperávamos tais
como: leitura individual, compartilhadas, silenciosa, leitura em voz alta feita
pelo professor,leitura pelo aluno. Algumas faziam parte de alguma modalidade
organizativa do tempo didático. Percebemos que as práticas de leitura são
muitas desenvolvidas nas escolas, contudo se perdem em suas finalidades, um
exemplo é a situação de leitura pelo aluno, nosso maior foco neste encontro, a
finalidade mais forte pelas falas das coordenadoras é “tomar a leitura” paradar
notas, apenas notas!Para avaliar, tomava conta do discurso das coordenadoras,
em meio às falas, muitas pareciam não se dar conta dissoaté afirmaram fazer
isso também. Naquele momento parecia tudo meio confuso. Essa concepção de dar
importância a tomada de leitura pode gerar no alunoproblemas futuros, em vez de
formamos alunos que leem com e por prazer, que saibam definir suas apreciações,
que saibam opinar o que leu, saibam falar sobre um autor...formaremos alunos
presos ao um sistema avaliativo de ler por obrigação, ler em troca de algo como
presenciamos por aí nas práticas de sala de aula.
Para a
segunda proposta da pautaperguntamos ao grupo: O que é ser um bom leitor?
Para as
coordenadoras é:
Eliane – Bom leitor é a aquele que sabe
selecionar o que vai ler, pensando no gênero em diferentes situações do
cotidiano.
Aurizete– Ser bom leitor é aquele que le com
desenvoltura é capaz de compreender o que está implícito no texto.
Flavia – Ser bom leitor é ter capacidade de
escolher seu texto com autonomia. É saber inferir, ou seja, usar estratégias
de leitura. É saber que lemos em diferentes momentos em diferentes
propósitos.
Silvana – É aquele que também lê nas entrelinhas
acima daquilo que o autor escreveu.
Deliene – Penso que um bom leitor não é só o que lê
o que está propriamente dito, sim aquele que sabe pesquisar, o que vai ler
também.
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Em seguida convidamos as coordenadoras para lerem os
seguintes trechos abaixo que representavam de modo geral as respostas do grupo
quando perguntamos antecipadamente: Os alunos da sua escola são bons leitores?
Por quê?
Boa
parte, pois tenho acompanhado a frequência de livros emprestado da
biblioteca, para ser lido em casa, uma vez por semana cada professor leva
seus alunos para escolher o livro que quer ser lido na biblioteca, alguns
alunos do ciclo de alfabetização pede para a professora fazer leitura em voz
alta para eles.
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Em nossa escola acredito que os alunos são bons
leitores sim, devido ao fato de que sempre estão fazendo empréstimos de
livros na biblioteca da escola, trazendo livros de casa para leitura da
professora, o cantinho de leitura é o local mais frequentado da sala de aula,
percebe-se que os alunos gostam muito de ler.
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Sim, pois a escola tem realizado um trabalho que
leva o aluno a ter prazer em pegar um livro para leitura mesmo os alunos que
ainda não conseguem ler de forma convencional.
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Presenciamos a renúncia das respostas apresentadas no
quadro logo após a leitura. Puderam então enxergar a confusão que fizeramentre
o que significa ser bom leitor e as situações que envolve a leitura na escola. O
que não sabemos de fato é o que levou a tal mudança, no calor das discussões
esquecemos de fazer esse questionamento. Só sabemos que com essa comparação o
grupo chegou à conclusão de que devem ficar mais atentos as tarefas solicitadas.
Etambém refletiram que fazer empréstimos de livros, de levar alunos a
biblioteca, de participar de cantinhos de leitura... não significa que o aluno
é um bom leitor, podendo até ser situações que contribuem. Um bom leitor é
aquele que compreende o que le incorpora as estratégias de compreensão leitora,
que apresenta comportamentos e capacidades leitores...
Prosseguimos
convidando as coordenadoras para lerem o texto Como fazer para
que os alunos sejam bons leitores? de Cinthia Kuperman, para as questões norteadoras foram:
➔ O
que é ler com fluência?
➔ O
que ajuda a ler com fluência?
➔ Qual
a relação entre compreensão e fluência leitora?
➔ Por
que a maioria de nossos alunos apresenta dificuldades para ler com fluência?
Na socialização a
conversa foi assim:
Eliane compartilhou - “Nós colocamos que
lê com fluência aquele que sabe as diferentes situações do cotidiano
interpretando a função social da escrita e da leitura permitindo compreender o
significado do texto.”
Em
sequênciaSilvanaaponta suas
conclusões -“Ler com fluência é o ato de
simplesmente ler. É a decifração o aluno respeita todos os aspectos do texto,
mas necessariamente não compreende oque lê.”
Neste
momento a formadora fezo seguinte
questionamento–“Observem a resposta da Silvana
e digam se concordam.”
Eliane – “Não! Ler não é somente decodificar.”
Aurizete – “Ela quis dizer o seguinte. Que
o aluno pode ler corretamente respeitando tudo, pontuação, mas ler
mecanicamente, mas não consegue ler de acordo com intencionalidade do
texto.”
Letícia–“Acho que não! Ler com fluência
já está falando é ler com fluência! Que engloba todo contexto da leitura.”
Formadora – “Explica melhor Letícia isso?Quais
contextos da leitura que você se refere?”
Letícia– “Os propósitos do texto,
a função comunicativa que o texto exerce socialmente.”
Formadora –“Aproveitando o que a Letícia
está falando, cite um exemplo que possibilite o aluno ler com fluência pensando
no propósito comunicativo?”
Eliane – “Exemplo é trabalhar um conto de
terror com as crianças em que lerão para outros, para isso devem trazer momentos
de leitura em quetem que ler conforme a característica do gênero. No conto de
terror deve lercom suspense. Outro exemplo é solicitar as crianças que leiam
uma poesia para uma apresentação, fazendo uma leitura melódica, emotiva,sei
lá... Sei que entendi que para ler com fluência o leitor deve ter uma relação
com a organização do texto, característica do gênero e aos
propósitos.”
Formadora – “Tudo bem! Mas o qual a relação
do leitor fluente coma característica do gênero?”
Letícia– “Conhecimentos! Se conheço o
gênero, sua organização possibilita uma leitura com fluência, não leio de
qualquer modo.”
Nivalda – “Um aluno não vai ler uma
receita como lê uma poesia. Penso que ele vai respeitar o que o texto pede.”
Deliene -“Tanto que na leitura de poesia
a criança lê, reler, lê marcando com dedo com
a régua, ouve sua voz, grava ouve sua própria voz, até se sentir seguro
para ler para quem vai ouvi-lo, pelos menos foi isso que entendi na
leitura do texto.”
Para
não perder algumas reflexões foi necessário validar algumasreflexões geradas
até o momento sobre a leitura com fluência dessa forma fizemos o seguinte
levantamento:
® Não é simplesmente decifração;
® Que não é só ler rapidamente;
® Não significa necessariamente
compreender o que leu;
® Quando tem afinidade com gênero
textual possibilita uma leitura mais fluente;
® Quando se domina as características do
gênero pode garantir uma leitura mais fluente;
® Quando se sabe os propósitos que se
tem ao ler pode-se ler melhor.
® Ler melhor aquele que sabe para quem
vai ler.
Embora destacamos pontos que tem
relação com a leitura fluente, sentíamos de algum modo a ausência de outros
elementos como a pontuação, a leitura com entonação...
Assim continuamos a conversa.
Formadora – “Agora recuperando um pouco o
que falaram sobre o propósito da leitura. Quando leio uma receita faço de forma
instrucional, quando é poesia lemos de forma emotiva. Para cada texto exige
leitura diferente. Certo? Agora pergunto: O que tem no texto que nos leva a
fazer a leitura diferente? Seja instrucional, narrativa,argumentativo?O que
ajuda ler com fluência além do supracitado que não saiu ainda? ’
Bia – “A postura de quem está lendo?”
Formadora– “Também! Mas porque a forma de
ler a poesia é diferente da receita um exemplo?”
Eliane – “Os propósitos!”
Deliene – “Penso que leio a receita para
produzir algo. Sigo passo a passo.”
Formadora – “Tudo bem os propósitos podem
ser diferentes. A receita eu ensino a fazer algo, o poema tenho intenção de
emocionar. Tudo bem até aí. Mas o que me leva ler uma poesia de forma emotiva?O
que tem no texto que ajuda a trazer emoção?”
Nelcilene – “Acho que têm que entenderas
características do gênero.”
Formadora – “Mas tem algo dentro da
característica que da vida ao gênero para fazer uma leitura com fluência. O que
é? É isso que ajuda ler com fluência ou alimenta uma leitura com mais fluência?”
Miriã– “A entonação de voz, o ritmo.”
Formadora – “Certo! Mas o queme leva a ler
com entonação?”
Marquesilvia– “A pontuaçã!.”
Formadora –“Isso! A pontuação que nos ajuda
a ler com expressividade. Vocês falaram muito sobre respeitar as
características do gênero. Isso quer dizer que engloba muita coisa tanto do
ponto de vista do discurso quanto dos aspectos textuais. Enfim, depois de tudo
que apontamos paraler com fluência é preciso também darvoz a pontuação que tem
no texto. Para sistematizar: Ler com fluência não é só decifrar, pois muitos
podem ter lido aqui hoje e não ter lido com fluência.”
Marquesilvia–“Nós falamos aqui
que antes entendíamos que ler com fluência seria ler rapidamente,
corretamenteetirar a ideia principal do texto. E acredito que nossos
professores pensam assim também.”
Eliane – “Tem que pensar que não é só as
crianças que não leem fluentemente temos professores que decifram, mas não
interpretam.”
Formadora – Calma aí! Parece que ainda não está claro o que é ler com fluência.
Ler com fluência não é sinônimo de compreender o texto? Vejam o que Cinthiadiz
na primeira página “Muitos professores se perguntam
o que fazer quando a leitura dos seus alunos é pouco fluente. Em princípio, temos que recordar que ler
com fluência não necessariamente equivale a compreender. Se os alunos não atribuem sentido ao que
leem, é porque têm permanecido presos à decifração; portanto não estão
lendo. É necessário agilizar a leitura para conseguir que se sintam mais
seguros e tenham mais ferramentas disponíveis para enfrentarem um texto. Saber
que funções cumprem os negritos que destacam determinadas frases ou palavras,
que pistas oferecem os títulos, o que significa um asterisco junto a uma
palavra, como buscar informação específica em uma enciclopédia de quatrocentas páginas,
são competências necessárias para ser um leitor ágil.
Como se assinalou
em outros trabalhos neste livro, não há uma única modalidade de leitura, mas
múltiplas, de acordo com a finalidade que orienta essa atividade. Ler ou não
com fluência também depende da intenção com que se aborda o texto. Na classe,
com certos materiais, é imprescindível compartilhar os propósitos da leitura
para que os alunos consigam dar sentido próprio a essa tarefa. Que saibam para
que leem, o que se espera que estratégias possam funcionar como referência para
outras ocasiões, é essencial para ajudar-se a ler melhor. Também é útil saber
ler em voz alta para um auditório, seja um conto, uma poesia, ou um fragmento
de informação localizada e que essa leitura permita comunicar um significado. “Preparar-se
para ler diante de um auditório requer ensaiar previamente a leitura e é
provável que isso ajude a ler de forma mais fluída, ao menos, o texto em
questão.” Pela
leitura desse trecho podemos afirmar que ler com fluência é sinônimo de
compreensão?
Eliane
– “ainda não consigo entender isso. Pra eu
ler uma poesia que emociona os ouvintes tenho que entender o texto.”
Formadora
– “Veja. O que está em jogo para ler com
fluência são os aspectos composicionais, os propósitos, procedimentos de
leitor, comportamentos leitores, conhecer o gênero, autor, compreender também o
texto, mas não necessariamente como aborda Cinthia... Isso tudo não quer dizer
que para ler com fluência necessito compreender o texto, contudo não impede de
se compreender, mas se compreendo posso ler cada vez melhor. Na escola podemos
tercrianças que leem fluentemente uma poesia e poderá não compreendê-la, até
mesmo porque sabemos que n~~ao é uma gênero tão fácil de compreensão.Outras que
também leem rapidamente, mas não leem com fluência.”
Miriã–“Vou dar um exemplo bem claro de
ler com fluência não significa compreender o texto. Vejo muito as apresentações
das crianças na escola em que envolve leitura de texto, alguns bem críticos, as
crianças leem muito bem, mas não sabem o que significa assim podemos concluir
que ler com fluência, mas nem sempre que dizer que compreendeu.”
Lisandra – Essa questão de compreensão é
ser um bom leitor, foi o que compreendi hoje. Ser um bom leitor é aquele que lê
e compreende o que está explicito e implícito no texto. Ler fluentemente é
diferente, posso ler fluente e não compreender e posso compreender também e ler
com fluência.
Para
encerrar este primeiro momento fizemos uma síntese do que ée o que ajuda ler
com fluência:
® Não é simplesmente decifração;
® Que não é só ler rapidamente;
® Quando tem afinidade com gênero
textual possibilita uma leitura mais fluente – conhecer o gênero textual.
® Quando se domina as características do
gênero pode garantir uma leitura mais fluente – conhecer a composição do gênero
textual;
® Quando se sabe os propósitos que se
tem ao ler pode-se ler melhor.
® Saber informações sobre o autor.
® Ler com fluência não é sinônimo de
compreender, mas só haverá leitura fluente se houver compreensão do texto.
® Conhecer o público;
® Quando sabe para quem vai ler.
Em continuidade: Porque a maioria de
nossos alunos não leem fluentemente?
Formadora – ‘No início do encontro alguém
falou que uma das práticas de leitura é “tomar a leitura” e que alguns de vocês
até fazem isso. A questão é: É preciso isso? Para que isso? Não tem outro
caminho que pode ser feito que dê condições tanto do professor avaliar seu
aluno a respeito da leitura?”
Nelcilene – “Eu faço isso porque os alunos
gostam e até cobram?”
Formadora – “Eu sei, mas porque eles
gostam? Penso que seja porque a prática já faz com que eles se habituassem a
essas situações. Eu mesma me sentia muito mal quando a professora solicitava esse
tipo de leitura com intuito de me dar nota, meu estado emocional fica abalado,
onde gaguejava tremia... e a questão é: Em algum momento isso foi considerado?”
Aurizete -“Essa leitura deve ser dentro de
um propósito, está dentro de uma rotina em que envolvem todos. Não pegar a
criança e tomar a leitura porque assim induzimos o jeito certo e errado de se
ler. Pois sabemos que se fazemos umsarau, assim como falamos, eles podem
participar, professor se quiser pode avaliar, mas o aluno está envolvido nos
propósitos sociais que nem ficará com tanto medo da nota que vai vim, o medo aí
já pode ser outra coisa, o de apresentar.”
Formadora – A criança tem medo de errar justamente pelo o sistema em que está inserida.
Vejam que no próprio texto da Cinthia diz “Como
atuar com os alunos que têm medo de errar? Não há uma fórmula
precisa para saber o que fazer com os alunos que se mostram temerosos diante da
leitura. No entanto, há algumas intervenções didáticas que podem ajudá-los a
ter confiança em si mesmo e a considerar o erro como parte do processo de
aprendizagem.Saber que o conhecimento é provisório e que tudo o que se aprende
é objeto de sucessivas reorganizações permite substituir esse temor e ganhar
confiança na sua capacidade. O professor ajuda os alunos a se darem conta do
que podem e do que sabem. Por isso é importante planejar situações didáticas
que organizem o ensino na classe, de modo que os alunos reflitam a partir dos
conhecimentos – em alguns casos errôneos ou provisórios – que possuem e possam
fazer o que lhes propomos: ler um novo texto, um texto mais extenso, buscar
informação precisa, etc. A única maneira de promover a aprendizagem é que os
alunos resolvam situações problemáticas e adquiram estratégias que lhes
permitam resolvê-las cada vez com maiores recursos...”. Pensamos que o medo pode
diminuir quando colocamos o aluno para ler dentro de um contexto, pois é isso
que vai gerar minha leitura, não isoladamente como já mencionamos.
O tempo já
expirava só nos permitiu ler o trecho abaixo para ajustar o que falamos sobre
como ajudar os alunos a serem bons leitores:
Várias questões podem ser
levadas em conta para ajudar os alunos a ser bons leitores. Em continuação
analisam-se algumas propostas didáticas que, na prática, se relacionam, pois
uma necessita da outra.
Ler
diversos textos
Será necessário propor
diversos tipos de textos: um repertório amplo, de circulação social real
(receitas, cartas, contos, notícias, obras de teatro, páginas de
enciclopédia, etc.) Sem textos verdadeiros na sala de aula, é impossível
ajudar os alunos a melhorar seu processo leitor.
Na escola há uma tradição
segundo a qual se fracionam e graduam os textos ao ponto de deixar de serem
textos.[1]
A prática escolar se distancia e fica dissociada de outras práticas sociais;
os textos que se oferecem se transformam em absurdos, carentes de sentido e
de verdadeiros propósitos comunicativos. Ter o texto completo à disposição
oferece mais pistas ao leitor que
ter somente uma parte descontextualizada. Quando se lê unicamente um
fragmento ou uma notícia isolada, se xeroca uma página de um livro de estudo,
etc., é fundamental mencionar a fonte, isto é, indicar de onde foi extraído o
texto, mostrar o livro completo, o jornal ou o suporte de onde fazia parte.
Isto permitirá contextualizar sua procedência.
Ler
segundo um propósito
Quando os alunos e os adultos
leem com um propósito claro, estão em condições de selecionar o texto e
ajustar as estratégias mais adequadas para compreendê-lo.[2]
Esse propósito pode ser desfrutar, obter informação – geral ou precisa -,
seguir instruções, comunicar algo a outros, etc. Não se lê porque sim; sempre há uma finalidade.
É necessário prever diversos propósitos de leitura tanto durante cada ano
escolar como durante toda s escolaridade.
O
professor lê aos alunos
Ao ler um texto aos alunos, o
professor modeliza comportamentos de leitor; comenta qual editora publicou o
material; quem é o ilustrador; lê os dados da contracapa; relaciona o texto
com outro da mesma coleção, com outros títulos do autor, ou com textos
similares; lê o índice; mostra o marcador de página que usará e antecipa
quanto vai durar a leitura; faz marcas com lápis no texto e as compartilha
com os alunos. O professor comunica qual é o propósito: lê para que os alunos
conheçam uma história; lê um bilhete que colarão no caderno de comunicados;
lê para buscar informação específica e solicita que o avisem quando
perceberem que dada informação é relevante; relê; registra uma página para
depois encontrá-la facilmente e escreve um pequeno texto que funcione como apoio à memória. Gera um ambiente que
propicie e estimule a leitura. Enfim, um professor que atua deste modo,
ensina a ler.
Os
alunos leem por si mesmos
O professor oferece livros
aos alunos e os prepara como leitores na aula. Dá-lhes tempo para que olhem
os textos, para que selecionem entre vários qual servirá para buscar
informação acerca do que estão estudando. Põe à sua disposição marcadores de
páginas para que marquem aquilo que depois desejarão voltar a ler; convida a
ler um título; oferece várias biografias para que os alunos encontrem as que
são de autores que estão lendo e para que localizem novas informações
relacionadas com o que selecionaram até o momento. Pergunta como fizeram para
encontrá-las, em que se detiveram, o que levaram em conta. O professor não
impõe a sua leitura, trata de compreender o que os alunos leram, qual o
sentido que construíram. Deste modo, também ensina a ler.
Em cada aula há alunos com
diferentes experiências em situações de leitura. Isto, mais que um problema,
é um interessante ponto de partida para começar a trabalhar. Diversas
intervenções ajudarão para que todos leiam um texto. Estas variarão de acordo
com o texto, o propósito, a informação que oferece o professor e os
conhecimentos que tenham os alunos. Por exemplo:
·
Dizer que o texto informa sobre a rã e
solicitar aos alunos que localizem os dados novos que oferece sobre o tema;
·
Solicitar que localizem em um novo texto informações
que já conhecem sobre o tema que estão estudando.
Ler bem não é,
necessariamente, fazê-lo bem em voz alta. Tradicionalmente, na escola, ler bem era sinônimo de dizer bem, mas agora se sabe que
entender não é o mesmo que oralizar um texto escrito.
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E ainda
para fechar as discussões passamos em slide os seguintes conceitos sobre
leitura com fluência.
Lerfluentemente não significa apenas
compreender o que se lê, pois é possível ler rapidamente sem entender o
assunto de que trata o texto. A leitura de um texto requer conhecimento de
seu propósito por parte dos alunos, já que fluência também tem a ver com a intenção
da leitura – para quê ler, com qual finalidade, quais estratégias poderão ser
utilizadas, o que se espera ao final, e é importante expor aos alunos esse
propósito em cada atividade. Costumamos “tomar” um texto sempre com uma
intenção e esta não necessariamente é vinculada a seu gênero. Dessa forma,
nem sempre vou ler obras literárias apenas para apreciar, mas também posso
ler para fazer um estudo sobre a época em que se passa um romance, ou para
analisar o estilo empregado pelo autor, ou ainda para traçar um perfil dos
personagens. Também lemos notícias com intuitos variados, além de se
informar; podemos ler para conhecer mais sobre outro país, para ampliar nosso
conhecimento sobre um assunto específico, para estudar para uma prova etc. A
intenção, o propósito vai determinar minha leitura e a compreensão que tenho
do assunto abordado por aquele texto.
|
A
fluência em leitura
Outro
conjunto de dificuldades que leitores em formação encontram para compreender
textos está relacionado ao processo de leitura mesmo, quer dizer, ao modo
como esses leitores processam as informações gráficas e apreendem unidades
sonoras, lexicais, sintáticas e semânticas. Isto ocorre porque, quando o
leitor lê com muito esforço, decodificando palavras e prestando atenção em
cada uma das letras (ou mesmo em unidades superiores, como sílabas e
palavras), sobrecarrega seu cérebro, impedindo a que se volte para a
compreensão do que está lendo. Não há muita pesquisa sobre o desenvolvimento
da fluência em escolas brasileiras. A própria inexistência de pesquisas,
aliada a indicadores assistemáticos obtidos em visitas a escolas e no
acompanhamento da leitura oral de alunos, me faz supor que, talvez, esse seja
um dos mais importantes problemas enfrentados por leitores em formação em
nossas escolas. Ao que parece, a habilidade de fluência é muito pouco ou
quase nada trabalhada nas escolas ou incentivada por orientações curriculares
e livros didáticos.
Para
que o aluno leia com fluência, é fundamental que:
i. possua um amplo domínio das
relações entre grafemas e fonemas na ortografia do Português;
ii. automatize o processo de
identificação de palavras, por meio do qual, em vez de decodificar lenta e
laboriosamente as unidades gráficas, o leitor apreende quase automaticamente
essas unidades, em grande parte porque já construiu uma espécie de
“dicionário mental” ou “léxico mental” (FAYOL, 2006) que permite tomar uma palavra
não como uma nova palavra, mas como algo que já se conhece e, por isso, se
reconhece;
iii. seja capaz de realizar uma
leitura expressiva, que envolve uma adequada atenção aos elementos
prosódicos, como entonação, ênfase, ritmo, apreensão de unidades sintáticas
(KUNH e RASINSKI, 2007);
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Cinthia Kuperman
Em princípio,
temos que recordar que ler com fluência não necessariamente equivale a
compreender. Se os alunos não atribuem sentido ao que leem, é porque têm
permanecido presos à decifração; portanto não estão lendo. É necessário
agilizar a leitura para conseguir que se sintam mais seguros e tenham mais
ferramentas disponíveis para enfrentarem um texto. Saber que funções cumprem
os negritos que destacam determinadas frases ou palavras, que pistas oferecem
os títulos, o que significa um asterisco junto a uma palavra, como buscar
informação específica em uma enciclopédia de quatrocentas páginas, são
competências necessárias para ser um leitor ágil...
Ler bem não é,
necessariamente, fazê-lo bem em voz alta. Tradicionalmente, na escola, ler bem era sinônimo de dizer bem, mas agora se sabe que
entender não é o mesmo que oralizar um texto escrito...
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Infelizmente
não foi possível dar continuidade ao desenvolvimento da pauta, em especial, à
parte do acompanhamento do coordenador junto ao professor.
Encerramos acreditando que
aprendemos um tanto, contudo é preciso maior aprofundamento sobre o assunto
porque não se muda uma concepção em minutos, mas pode-se provocá-la a ponto de
causar inquietações. Nas inquietações é preciso desajustar para ajustar,
repensar para construir novas ideias e foi isso que aconteceu. Pelo menos foi o
que concluímos ao final deste encontro, não foi nada tranquilo, muitas podem
não ter concordado com o final dessa história.
Fomos embora que o amanhã é outro
dia! Desejamos que pelo menos que elas
entenderam que é necessário dizer para ouvinte o que o texto diz na sua mais
bela forma composicional.