quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Relatório do 7º encontro de Formação Além das Letras

Segunda-feira de manhã, dia 31 (trinta e um) de outubro, pouco mais das 7 horas, iniciamos nosso último encontro.Nossa conversa começou com a leitura da síntese. Dulce responsável pela escrita do relatório relatou os acontecimentos da história passada. De uma forma sucinta apresentou os conflitos que nela apareceram, que iniciou a partir da análise da prática de uma professora de nossa rede, que apresentava ter alguns conhecimentos necessários para realização do diagnóstico como: Obedece a um grupo semântico; Faz análise da escrita corretamente;Solicita a leitura a cada escrita da criança e pede que marque com um lápis; Lista de 5 palavras: polissílabo, trissílabo, dissílabo e monossílabo. Por outro lado apesar de pontuar esses aspectos como relevantes, outros investimentos precisam ser feitos, um exemplo é a concepção da professora como as crianças aprendem. Para ela hipótese se ensina, fato que tornou-se evidente quando a criança escreveu as palavras solicitadas por ela. Na escrita a criança coloca em jogo suas suposições sobre a escrita, o que ela pensa sobre o funcionamento da língua escrita, mas ao fazer a leitura nos leva a entender que foi condicionada a escrever duas letras para cada sílaba demonstrando em sua ação que isto faz parte dos conceitos que a professora tem sobre a construção da escrita. Diante de tal situação sem dúvida ficou evidente a importância de aprofundarmos nas reflexões quanto ao conteúdo leitura e escrita pelo aluno, pois de forma geral essa prática se assemelha com a de muitos professores alfabetizadores. Assim foram nossas conclusões no encontro passado, rememorada no relato da coordenadora.

É...Mais a história não parou por ai, a formadora, trouxe como aperitivo ocapítulo “Crianças à venda tratar aqui” extraído do livro Sete Ossos e uma Maldiçãode Rosa Amanda Strausz, o qual causou ares de mistérios aos coordenadores porque conta a história de uma mulher que queria vender todas as suas crianças. Ela vendeu as crianças até quando chegou a vez de Fabiojunio, garoto mais novo dos irmãos, com seis anos de idade.Todos os finais de semana vinha um envelope para a mãe dele com o dinheiro e uma foto do filho. Sempre quando a irmã mais velha via a foto ela desconfiava de que alguma coisa tinha por trás daquilo tudo. Até que ela foi desvendar o caso, e chegando lá viu que na rua não havia nenhuma casa só um cemitério. Quando ela viu o cemitério ficou aterrorizada com o que estava acontecendo naquele momento, viu a cova do irmão e do outro lado estava à cova do casal que comprou a criança e na data do túmulo tinha mais de séculos. Ela apavorada correu para a sua casa e antes de falar o que aconteceu, sua mãe interrompeu e disse...Pelo ar misterioso que o texto carrega despertou o interesse do grupo para saber o desenrolar dessa narrativa e assim foi emprestado para saciar a curiosidade que foi despertada nesta leitura em voz alta. Se quiser saber a história,na integra, você leitor, encontrará no site http://contosecantadas.blogspot.com/2010/11/criancas-venda-tratar-aqui.html, o nosso foi lido diretamente do portador indicado e emprestado pela coordenadora Rosinalda. A leitura em voz alta feita pelo formador tornou-se uma prática permanente na formação, debruçar sobre bons textos tem sido muito bom! Afinal a leitura de um bom texto cabe em qualquer lugar.

De roda de leitura passou-se para roda de conversa no momento da retomada do encontro passado. Na conversa, os dizeres de Keine, coordenadora, atraíram a atenção dos participantes “A professora relatou seu desespero sobre as aprendizagens dos seus alunos. Então pensamos que a devolutiva deveria gerar em torno de aprofundamento teórico, uma vez que ela aparentava não saber que conhecimentos seus alunos tinham sobre a escrita, na verdade ela não tinha ideia da hipótese de escrita em que eles se encontravam, por isso o conhecimento teórico seria de extrema importância para ajudá-la a pensar em boas atividades em que os alunos pudessem avançar”.

Só a fala de Keine descrevera as conclusões do grupo ao fazer a devolutiva para professora no encontro anterior. Por conta disso o principal objetivo nesta retomada foi provocar a reflexão sobre ações mais concretas do coordenador à devolutiva feita para a professora. Abrem-se então as portas para o propósito deste momento que é pensar em ações formativas para mudar este cenário, em que só o aprofundamento teórico não é suficiente para redirecionar o olhar desta professora sobre o processo de aprendizagem dos alunos nos anos iniciais, é de suma importância, mas não suficiente para impulsionar mudança de concepção e prática.
Que ações implementar na sua prática, coordenador, de sorte que a transposição da teoria para prática aconteça de forma desejável?

- Acompanhamento no planejamento e algumas vezes ajudar está professora a planejar atividades que possam ajudar as crianças avançarem"–Eliane
- Sessões de estudos e pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita" –Terezinha
- Observar a prática da professora com intuito de dar novo sentido às problemáticas apresentadas - Letícia
- Análise de diagnóstico junto com a professora com foco de tornar notável a ela os conhecimentos que as crianças têm sobre a língua escrita– Joana
- Tematização da prática. Nilda
- Análise de bons modelos de práticas na alfabetização –Lucia

Esses poucos minutos valeram por uma hora. Legitimar essas ações na rotina do coordenador foi o ponto alvo neste momento, é um assunto que rende muitas discussões, alguns apresentaram dificuldades em desempenhar essas ações no seu dia-a-dia. Com isso tivemos oportunidade de ouvir alguns desabafos e também de sorte suar em nossos ouvidos algumas conquistas.

-Tenho uma angustia. As três formações são maravilhosas, excelente mesmo! Mas ainda tenho dificuldade de organizar as formações para que aconteçam em tempo hábil, desabafou Keine.

-Minha angustia já é não poder desenvolver mais as formações. Depois que asescolas Multisseriadas ficaram integradas nas escolas Pólos, só me resta participar das formações, desabafou, a assimilação do conteúdo não dá para compartilhar com os professores, como antes fazia Keily.

Este, um desafio para os formadores que já estão algum tempo na luta para o coordenador redimensionar seu verdadeiro papel dentro da escola, haja visto que algumas ações já foram implementadas, principalmente para o caso de keine, em especial, mas ainda não suficiente para desafogá-la de muitas tarefas. O bacana que os problemas deles se tornam nossos também. Há preocupação por nossa parte em ajudá-los a se reorganizarem para que as formações aconteçam de modo significativo.

Por outro lado alguns frutos estão sendo abrolhados:

- Comecei a ver resultado na ação de meus professores a partir do momento que tornei a análise dos diagnósticos importante na minha ação. Antes quem fazia o diagnóstico era eu, agora faço um papel diferente, um papel de analista das escritas das crianças junto com os professores. Sentar com ele e analisar as escritas dos alunos, levaram-nos a compreensão de saber o que as crianças pensam sobre a escrita e quanto é importante ter conhecimento teórico. Agora vejo eles colocando os conhecimentos teóricos na prática quando analisam as escritas dos alunos, não ficam mais só na marcação de hipótese e sim de entendimento sobre o que os alunos pensam – Lucia -

- A tematização da prática tem sido uma ação importante na minha escola, só ainda não dou conta de fazer com todas as professoras. O que ainda é angustiante para mim, pois as que eu não faço me cobram, por estar só eu na coordenação não dou conta ainda de me organizar para atender todas – Nilda.

- Analisar junto com os professores as escritas dos alunos, tem sido uma ação importante, é visto hoje na minha escola, que as professoras têm mais segurança em explicar para os pais os avanços das crianças. Principalmente o avanço na própria hipótese, pré-silábico, por exemplo, elas falam com mais propriedades o que os alunos sabem – Flávia-

A análise e reflexão sobre ações mais concretas ampliaram a visão do grupo referente suas ações e apontam duas questões importantes nessa discussão:
1. Que a situação foi oportuna para que os coordenadores pudessem pensar no que deve ser acrescentado à sua prática.
2. Revela compreender o papel das coordenadoras no movimento de aprendizagem do professor e o quanto suas açõestornam fundamentais para o avanço dos professores.

Um cafezinho para espairecer. Pode ser?

Entre um biscoito e outro, uma conversa aqui outra acolá, é percebido entusiasmo no grupo pela formação em suas escolas, mesmo diante dos obstáculos que enfrentam no seu cotidiano, explanam, compartilham um com outro que o trabalho com a leitura e escrita pelo aluno com fundamentação teórica vem acontecendo a partir dos encontros de formação, embora em algumas assimilações dos conteúdos ainda aparecem um pouco tímida em alguns grupos.

Juntamo-nos na roda, após o intervalo e convidamos os participantes para analisar o planejamento da professora Tereza. Um planejamento com nomes próprios que não possibilita que as crianças analisem a lógica do sistema de escrita. Está centrada em identificar letras e contá-las. E essas ações, ainda que ensinem coisas às crianças, não ensinam sobre como se organiza o sistema de escrita, quais suas regras, sua lógica interna, longe de ser um objeto que ofereça condições para aprendizagem e reflexão sobre o sistema de escrita. Achamos por bem essa reflexão porque a prática de Tereza se assemelha a de muitos alfabetizadores de nossa rede. Para início de conversa as questões para aquecimento:Essa é uma boa atividade para gerar a reflexão sobre o sistema de escrita? Justifique.O que os alunos dessa sala aprendem quando colocam BRENO na coluna de número 5; RUI na coluna de número 3 e BENEDITO na coluna de número 8? Em que isso ajuda a aprender a ler e a escrever?
- Com esta atividade as crianças só aprendem a quantidade de letras - Dulce.

- Não é uma atividade adequada, não explora leitura, está mais voltada as questões de quantas letras usar! O propósito é a leitura não é apontando letra inicial e contando quantas letras que vai proporcionar momento de leitura para criança – Leticia.

-As crianças só vão contar? A atividade não ajuda a refletir sobre a língua escrita–Eliane.

-Essa não é uma atividade boa porque não houve desafios para as crianças, e não pensou nas crianças que estavam em hipóteses mais avançada. Essa atividade apenas faz associação e não faz as crianças refletirem sobre o sistema de leitura e escrita. A professora ainda classificou alguns em hipótese a menos e fez agrupamentos de forma equivocada– Lisandra

- Os alunos com essa atividade aprendem a noção de quantidade, não há desafio de leitura e escrita. Não oferece subsidio para os alunos pensarem sobre o sistema da escritaque poderia ir além da quantidade de letras e associação das mesmas – Nilda

- Não é uma atividade boa, não há desafio e não explora a leitura da criança como propõe o planejamento. Um ponto que é percebido que a professora acredita não ter nenhum aluno alfabético o que revela no agrupamento dos alunos, que também apresenta problema de agrupamento- Marquesilvia

Pois bem a conversa tá muito boa, mas passamos mais adiante. Assistimos um vídeo da professora Márcia, trecho retirado do vídeo do Profa, para sistematizar melhor essa discussão. O vídeotraz uma situação de prática ao contrário de Tereza. A atividade proposto por Márcia, possibilita que as crianças coloquem em jogo seus saberes sobre o sistema de escrita e construam outros saberes durante a interação com o outro, oportunizando então os alunos avançarem em seus conhecimentos porque as crianças enfrentam problemas para resolver. Questão proposta:Em qual atividade as crianças precisaram refletir sobre o sistema de escrita, ou seja, em qual tiveram que pensar em quantas letras usar, quais letras usar, em que ordem colocar?
-A atividade da professora Márcia ofereceu uma situação de aprendizagem, onde a professora através de suas intervenções levou as crianças refletirem sobre o sistema da escrita fazendo com que os mesmos avançassem – Rose

- A professora Márcia faz as crianças analisarem. O que é louvável é o agrupamento Luiz que usa mais as vogais e Diogo que usa mais as consoantes, é algo que deve fazer parte doplanejamento da professora, não agrupa de forma aleatória, ela tem o propósito para eles, que é que eles compartilhem seus conhecimentos, isso entendo como uma garantia para que as aprendizagens aconteçam, diferente da professora Tereza. Keine

A análise do planejamento da professora proporcionou reflexão sobre as atividades propostas nas turmas de alfabetização, contribuiu para orientar o olhar frente às práticas no planejamento. Na verdade atividades como da professora Tereza nos ajuda refletir sobre as práticas de ensino e as concepções que as fundamentam e também desperta para uma análise de como os planejamentos estão sendo elaborados pelos professores da rede municipal.

Porque tudo isto? É a pergunta que nos vem ao final deste encontro. De fato é puxar para discussão quanto é importante conhecer o que os alunos sabem para pensar em um planejamento que possa gerar aprendizagens, pois numa perspectiva construtivista, o conhecimento só avança quando o aluno tem bons problemas sobre os quais pensarem.

Já era tarde, a manhã passou muito rápido, chegando já quase as 11h e 30 min, tinha um combinando para o término deste encontro, então seguimos para o encerramento orientando a tarefa para o próximo encontro para tratar dos avanços e desafios com o trabalho deste conteúdo na escola.

Bom, depois de vencer km de reflexões e discussões, 7 ou mais pecados comentemos nesta estrada de poeira fina frente as reflexões sobre a prática de ensino encontradas na nossa rede. Se cada coordenador levar essas reflexões para escola, já está bom. No mais, agora e imediato, é dar um novo contexto sobre o ensino da leitura e escrita que ainda vigoram, dá uma nova óptica nessas ideias arraigadas sobre como as crianças aprendem a ler e a escrever.

Enfim nos sentimos como uma criança que a cada passo um grande obstáculo a ser enfrentado, o desafio é grande, porém a cada encontro sentimos que as coordenadoras estão mais seguras e se empenhando cada vez mais, como uma criança que quando começa a se equilibrar logo quer dar seus primeiros passinhos.

Até logo mais! Até o próximo o encontro de avaliação, pelas nossas contas no início de dezembro!!

Clau, Sandra e Vicente